Resumo: |
Este trabalho tem como objetivo analisar a atuação das células e Comitês Democráticos Populares (CDPs) em bairros que contavam com grande concentração operária na cidade de Niterói, entre os anos de 1945 e 1950. Este período, que corresponde a uma experiência bastante singular da história do PCB, pois ainda que breve, notabiliza-se por seus impasses, avanços, recuos e contradições, representou um amplo crescimento do partido tanto nas urnas quanto em seu número de militantes. Criados nos espaços de trabalho e moradia dos trabalhadores, os CDPs traziam em si a tarefa precípua de criar formas de mobilização popular para o atendimento das demandas locais, procurando em paralelo, aumentar o seu número de membros independente da filiação partidária e/ ou ideologia política dos mesmos. Ainda que este pretenso apartidarismo não dirimisse a importância das diretrizes ditadas pela cúpula partidária na concepção/ organização destes organismos, bem como não ocultasse os interesses do partido em incrementar seu número de eleitores, destacamos aqui a importância das reivindicações locais dos trabalhadores/ moradores e das suas formas de organização, convivência e sociabilidade comunitária para a conformação e elaboração das estratégias de ação dos CDPs. No caso da antiga capital fluminense, ao mesmo tempo em que os comunistas consideravam imperativa a tarefa de neutralizar a influência de Amaral Peixoto - que estivera quase uma década à frente da interventoria do estado - estes não puderam deixar de atentar para as formas de articulação comunitária presentes nos bairros operários da cidade, muitos dos quais, aliás, guardavam em si fortes marcas da administração amaralista. Na contramão de algumas análises que consideram estas experiências populares dos anos 1940 e 1950 como resultado puro e simples de manipulação e cooptação - em contraposição aos movimentos sociais autênticos que entraram na cena brasileira em fins da década de 1970 e início da década de 1980, procuramos tomar aqui outra direção interpretativa, ao vislumbrar na experiência dos CDPs, formas de mobilização popular e de luta por direitos. Entremeados pelas designações atribuídas pela direção do partido e ainda, por lideranças políticas locais, pelo Estado e é claro, pela população residente nestes bairros operários, consideramos que os CDPs configuram um verdadeiro campo de possibilidades para análise dos movimentos sociais.
|