Cultura política e participação popular na transição : uma análise do Plano Cruzado

Examina a participação popular no Plano Cruzado por duas razões, aparentemente opostas: por um lado, pelo seu ineditismo e, por outro, devido à sua semelhança com as lutas sociais dos anos 1970 e 1980. Ele foi inédito porque constituído por multidões decididas a impor o tabelamento de preços ao empr...

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Autor principal: Assis, Charleston José de Sousa
Tipo de documento: Outro
Idioma: Português
Publicado em: 2017
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Resumo: Examina a participação popular no Plano Cruzado por duas razões, aparentemente opostas: por um lado, pelo seu ineditismo e, por outro, devido à sua semelhança com as lutas sociais dos anos 1970 e 1980. Ele foi inédito porque constituído por multidões decididas a impor o tabelamento de preços ao empresariado e porque o povo parecia ter o governo ao seu lado após duas décadas que o mesmo estava no polo oposto. A semelhança com as lutas das décadas de 1970 e 1980 fica evidente ao analisá-lo ao lado das muitas lutas sociais do período: observam-se aspectos comuns e compartilhados, articulações e repetições. Percebe-se que as multidões apresentavam um modus operandi claramente herdado de experiências coletivas anteriores, o qual pode ser observado no recurso aos coros e ao Hino Nacional, entoados coletivamente, bem como aos slogans, a escolha dos alvos, etc., o que sugere uma educação política construída coletivamente e disseminada socialmente. O exame dos registros evidencia que o comportamento dos populares nas múltiplas ações coletivas do Cruzado possuía raízes em outras formas de mobilização e lutas sociais, forjadas durante e contra a ditadura. Para explicar o comportamento coletivo observado naqueles anos recorri aos historiadores Edward Thompson e Benedict Anderson. O primeiro auxilia a explicação do fenômeno através dos seus conceitos de classe e de noção de legitimação, enquanto o último quando explica que a unidade popular pode ser forjada através do sentimento nacional. As evidências empíricas indicam que a maioria dos integrantes das classes populares carregava consigo (e muitas vezes operava com) diversas experiências - da pobreza, dos movimentos sociais e político, do medo etc. - sobrepostas, mescladas e difusas, e, mais que isto, que tais experiências ajudaram a compor o perfil radical demonstrado cotidianamente à época. Sendo assim, apesar de haver muitas e distintas mobilizações, se analisadas do ponto de vista das experiências da maioria dos populares, todas elas vivenciadas pessoalmente ou através dos meios de comunicação, independentemente do seu caráter e finalidade, ajudaram criar uma noção de horizontalidade animada pelo sentimento pátrio, e, ao mesmo tempo, mas não contraditoriamente, classista - o nós versus